quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Rei do Gado



Autoria: Benedito Ruy Barbosa
Colaboração: Edmara Barbosa e Edilene Barbosa
Direção: Luiz Fernando Carvalho, Carlos Araújo, Emílio di Biasi e José Luiz Villamarim
Direção de núcleo: Luiz Fernando Carvalho
Período de exibição: 17/06/1996 - 14/02/1997
Horário: 20h30
Nº de capítulos: 209

Trama/ Personagens:
- Dividida em duas partes, O Rei do Gado conta o conflito familiar de ge
rações entre os Mezenga e os Berdinazi, imigrantes italianos que fizeram fortuna no Brasil com criação de gado e plantações de café, respectivamente.

Tarcisio Meira e Antonio Fagundes, como Berdinazzi e Mezenga

Produção:
- Luiz Fernando Carvalho dirigiu sozinho toda a primeira fase de O Rei do Gado. Só na segunda, passou a dividir o trabalho com Carlos Araújo, Emílio di Biasi e José Luiz Villamarim.
- Reforçando o estilo cinematográfico do diretor, a novela contou com a fotografia de Walter Carvalho, um dos mais prestigiados fotógrafos de cinema do país.
- Para dar o tratamento da luz na primeira fase da novela, Luiz Fernando Carvalho conta que se inspirou em pinturas italianas, do final do século XIX até a era romântica. A intenção era captar a atmosfera dos imigrantes do interior de São Paulo na década de 1940. Segundo o diretor, em vez da luz dilacerada, de cores fortes e altos contrastes de Renascer (1993), quando estudou pintores baianos, em O Rei do Gado a luz criava uma atmosfera mais tênue, clara, sem muitos claros e escuros. “Tinha que passar a impressão de que a luz tem cheiro, um perfume, não é ardida, não bate no rosto da pessoa, mas perfuma, como se estivesse em volta dela, e não sobre ela”, afirmou ele na época do lançamento da novela.
- Para as gravações de O Rei do Gado, foram utilizados pelo menos cinco pólos de produção: Itapira, Ribeirão Preto e Amparo (SP), Guaxupé (MG) e Aruanã (GO), por onde se espalhavam as fazendas usadas como locação, além da cidade cenográfica construída no Projac.
- Na primeira fase da história, foram exibidas cenas passadas durante a Segunda Guerra Mundial. A equipe da novela viajou à cidade de Craco, uma das regiões mais pobres da Itália. Lá, foram reconstituídas cenas de batalhas, com cerca de 300 figurantes. As cenas foram filmadas em película 16mm, própria para cinema, e em preto-e-branco.
- Na Itália, também foram feitas algumas seqüências em Guardiã Perticara e no monumento dos pracinhas brasileiros, na Toscana.
- A sede da maior e mais querida fazenda de Bruno Mezenga foi construída na cidade cenográfica, no Projac. Era, até então, a maior casa já feita pelo cenógrafo Raul Travassos, para ser gravada por dentro e por fora. A sede contava com dois pavimentos de 600m² de construção. Só as paredes eram cenográficas, mesmo assim ganharam revestimento de argamassa. O chão era de pedra e tijolo, as vigas de maçaranduba, o teto de pau-do-mato e eucalipto e portas e janelas de madeira de demolição.
- As paisagens bucólicas do Araguaia, onde ficava uma das fazendas de Bruno Mezenga, marcaram a trama. A região é formada por ecossistemas típicos do Pantanal, da Floresta Amazônica e do Cerrado, abrigando extensa diversidade de flora e fauna.
- Alguns atores se submeteram a laboratórios intensos antes da novela. Letícia Spiller e Patrícia Pillar, por exemplo, foram trabalhadas por Gisela Rodrigues, atriz e bailarina, professora e pesquisadora do Departamento de Artes Cosporais da Unicamp, para comporem suas caboclas. Leonardo Brício, Caco Ciocler, Manoel Boucinhas e Marcello Antony também fizeram laboratórios, sob coordenação do diretor Emílio de Biase. Eles foram para a região de Amparo e tiveram várias aulas com os colonos locais. Aprenderam a montar, cavalgar, bater feijão, colher café e tudo mais que precisavam para interpretar rapazes da roça.
- A maquiagem dos atores da primeira fase foi tratada com atenção especial. Os personagens são imigrantes, trabalhadores de terra, queimados pelo sol e endurecidos pelo tempo. A equipe da novela, supervisionada por Isabel Arbizu, fez um curso com Ve Neill, maquiadora de Hollywood, indicada ao Oscar pela maquiagem de Jack Nicholson no filme Hoffa. A equipe mandou várias fotos de close dos atores com todas as medidas necessárias, e ela veio ao Brasil em seguida para treinar as maquiadoras, com todo o material que seria usado.

Na primeira fase, a novela juntou ares operisticos juntando elementos do teatro e da narrativa audiovisual.conseguindo contrantes de luz em busca da ressonância do passado e mostrando a decadencia do ciclo do café e a inserçao brasileira na segunda guerra mundial.

A segunda fase mostrou a modernização e a riqueza do interior paulista (Ribeirao Preto).

Antonio Fagundes, Raul Cortez, Carlos Vereza e Patricia Pilar interpretaram personagens que marcaram a sua carreira.

A Reforma Agrária, a vida dos trabalhadores do Movimento dos Sem Terra (MST) e a luta pela posse da terra forma amplamente discutidos na novela e tiveram grande repercussão na mídia e na sociedade em geral.

O Rei do Gado estreou dois meses após a morte de 19 trabalhadores sem terra em Eldorado dosCarajás (PA) ( http://www.mst.org.br/node/604)


Na telenovela, o MST era apoiado pelo personagem de Carlos Vereza, o Senador Roberto Caxias, que na trama é morto em uma invasão.

A novela também contou com a participação especial dos senadores Eduardo Suplicy e Benedita da Silva.

Numa marcante cena da novela, o senador faz um discurso emocionado sobre os ‘sem-terra”, e no plenário estão apenas três senadores: um cochilando, outro lendo jornal e o terceiro falando ao celular. No dia seguinte, o então senador Ney Suassuna subiu à tribuna do Senado para protestar contra o que classificou como “distorção da realidade”. Segundo ele, a cena induzia a população a acreditar que não havia senadores honestos no país.

A produção da novela recebeu o Certificado de Honra ao Mérito no San Francisco International Film, concorrendo com 1522 produções de 62 países.

A primeira fase da novela foi especialmente transformada em minissérie para o Festival de Banff, no Canadá, onde foi selecionada como obra hors-concours.

Sua primeira trilha sonora, quebrou um recorde, que por 18 anos pertenceu a novela Dancing Days: vendeu mais de 1,5 milhão de discos.

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[Fontes: Boletim especial de programação da Rede Globo, número 1223; “A estética do cinema no vídeo” In: O Globo, 16/06/ 1996; ELIAS, Eduardo. “Parlamentares se irritam com o senador de Vereza” In: O Estado de S. Paulo, 04/08/1996; FERNANDES, Ismael. Memória da telenovela brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1994, p.442; MEMÓRIA GLOBO. Dicionário da TV Globo, v.1: programas de dramaturgia & entretenimento. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003; PADIGLIONE, Cristina. “O rei do gado ganha prêmios em festivais” In: Folha de S. Paulo, 15/05/1997.]



Por Adriana Rodrigues

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