terça-feira, 8 de junho de 2010

Década de 60

Novelas da Globo de 1965 a 1970

Em dezembro de 1951, pouco mais de um ano depois da televisão ser inaugurada no Brasil, a TV Tupi colocou no ar a primeira novela: Sua Vida me Pertence. Como ainda não existia o video-taipe, tudo era feito ao vivo. Mas os 15 capítulos da trama só foram exibidos às terças e quintas-feiras. O que se produzia na época eram histórias parceladas em duas ou três apresentações por semana. Descobriu-se então que, para segurar o público, era necessário criar o hábito de mantê-lo diante do aparelho de TV todas as noites, no mesmo horário.

A primeira telenovela diária foi ao ar em 1963: 2-5499 Ocupado, uma produção da TV Excelsior, lançada como uma opção despretensiosa. Na época não se podia imaginar que também estava sendo lançada a maior produção de arte popular da nossa televisão, além de grande fenômeno de massa, depois do carnaval e do futebol.

A modificação no gênero estava feita e a telenovela consolidou-se de vez ante o tele
spectador.
De início, as novelas eram baseadas em romances cubanos e os cenários eram
também de acordo com o estilo da história. As novelas, então, não representavam praticamente em nada a realidade brasileira.

Em 1965, nasceu a Rede Globo e junto com ela a Tv Tupi e Excelsior tornaram-se as três emissoras que veiculavam novelas. . Entretanto a telenovela brasileira, mesmo dominando a programação, não se libertou das origens radiofônicas e do estilo dramalhão herdado dos mexicanos, cubanos e argentinos.

No final dos anos 60 o gênero já estava solidamente implantado, graças às inúmeras produções dos últimos cinco anos. Houve então a necessidade de uma mudança no estilo. O essencial era transformar a telenovela numa arte genuinamente brasileira. Foi na Tupi que novas fórmulas em linguagem foram introduzidas. O primeiro passo foi dado com Antônio Maria, sucesso escrito por Geraldo Vietri entre 1968 e 1969. Mas o rompimento total deu-se em 1969 com Beto Rockfeller, idealizada por Cassiano Gabus Mendes e escrita por Bráulio Pedroso. As fantasias dos dramalhões estavam totalmente substituídas pela realidade, pelo cotidiano.

Na Excelsior destacam-se três títulos de sucesso escritos entre 1968 e 1970: A Pequena Órfã de Teixeira Filho; A Muralha, adaptação de Ivani Ribeiro do romance de Dinah Silveira de Queiróz; e Sangue do Meu Sangue, de Vicente Sesso.

Na Globo os dramalhões de Glória Magadan estavam com os dias contados. Janete Clair ainda escreveu sob sua supervisão Passo dos Ventos e Rosa Rebelde, entre 1968
e 1969. Mas o rompimento foi total a partir de Véu de Noiva, que estreou no final de 1969, marcando o início do 4º Período.

A década de 60 na teledramaturgia brasileira não gerou muitas influências na sociedade brasileira, visto que os dramas representados não condiziam com a realidade brasileira. No entanto, algumas tramas merecem destaque, como: Ilusões perdidas (primeira novela da Globo), Paixão de Outono e Eu compro essa mulher em que a atriz Leila Diniz atuava. Embora sem grandes nas novelas, Leila Diniz tinha um comportamento bastante diferenciado para época. O modo de falar, de vestir e de se relacionar causou muita polêmica e chamou muita atenção de toda a sociedade da época.

(Foto: Leila Diniz e Reginaldo Faria) Ilusões perdidas


(Foto: Leila Diniz e Walter Forster)Paixões de Outono


Em 1969, a novela Verão Vermelho de Dias Gomes abordou uma série de questões polêmicas, como o preconceito social e racial, a reforma agrária e o divórcio, não legalizado na época. Destacou também vários elementos da cultura popular da Bahia.


(Foto: Paulo Goulart, Dina Sfat, Jardel Filho e Arlete Salles)

Em 1969, a novela Véu de noiva inovou ao mostrar as paisagens do Rio de Janeiro, os lugares da moda, boates e bares do bairro de Ipanema. A autora Janete Clair misturou personagens de ficção e pessoas famosas, como o poeta Vinicius de Moraes e o cronista Carlinhos Oliveira, o que despertou a atenção do público jovem. Entre os temas abordados, a autora destacou, ainda, o crescente interesse pela cirurgia plástica.

Nessa novela, a autora Janete Clair criou um assassinato e lançou o bordão : “Quem matou Luciano?” como solução para justificar a saída de um ator da trama.

As chamadas da novela já apontavam uma mudança na estrutura da teledramaturgia na TV Globo: “Em Véu de Noiva tudo acontece como na vida real. A novela-verdade”. A emissora decidiu investir no realismo. Assim, Janete Clair assumiu a autoria de Véu de Noiva, substituindo o universo ficcional de castelos, masmorras e calabouços por imagens de um Rio de Janeiro luminoso, das casas de campo em Petrópolis e de autódromos movimentados.

Primeira novela da Regina Duarte que já era considerada uma grande atriz, mas que trabalhava na Excelsior.

(Foto: Regina Duarte)


Pigmalião 70, 1970, inaugurou o horário de humor das 7 horas.

A personagem de Tônia Carrero fez tanto sucesso que as mulheres passaram a copiar seu corte de cabelo, cortado em camadas, que ficou conhecido como “corte Pigmalião”.


(Foto: Tônia Carrero)


Irmãos Coragem, também em 1970, foi um marco na teledramaturgia. A autora Janete Clair misturava realidade e ficção nos campos do futebol e da política.

Ao abordar temas como futebol, a novela – que pertencia a um universo tipicamente feminino – conquistou também o público masculino.

Deu mais audiência do que a final da Copa de 1970, entre Brasil e Itália. O jogo foi apresentado num domingo e, no dia seguinte, a audiência da novela foi maior.

Irmãos Coragem reuniu o maior elenco em telenovelas e teve o maior empreendimento cenográfico da televisão brasileira realizado até então.


(Foto: Tarcísio Meira e Glória Menezes)



Por Cleane Braga




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